Diário de Uma Princesa Meio-Surda

 Luanda, 31 de Outubro de 2022. Hoje foi um dia estranhamente cheio de discórdias. Um dia curioso de se viver. E hoje, tal como em muitos outros dias, pude sentir quão valiosa é a vida, e, mesmo que se passem mil anos, nenhum tempo é suficiente para preparar o psicológico para a morte. É difícil imaginar o que estará do outro lado, e isso é um nada assustador. Deus, Alá, Buda, Nirvana, Paraíso, Inferno, Mundo Astral, Renascimento ou simplesmente vazio... As hipóteses são várias, mas ninguém sabe o que realmente há por trás daquele véu tão fino. E, às vezes, pego-me a pensar como será uma vida sem tudo que conheço... Seria estranho. A vida é apenas uma, e não acho justo limitá-la por simples medos ou opiniões sem importância. Dentro dos limites, cabe ao ser decidir o que faz do seu próprio tempo limitado. Os segundos correm. As pessoas vão e vêm, e o relógio nunca para. Mas as memórias, bem... Eu acho que estas duram para sempre.

 Luanda, 30 de Outubro de 2022. E lá se vai a expectativa de haver um post todos os dias (acreditem que não foi porque não quis, mas sim porque não pude). Continuando, bem... Não há muito para dizer. Ainda sou assoberbada por um cansaço anormal que não se explica somente com palavras. Os sonhos ainda não se tornaram reparadores, deixando-me acordar renovada, mas sim cada dia mais exausta, pensando se não seria melhor cancelar os planos e permanecer escondida nas mantas. Contudo, apesar de todos estes sentimentos não muito bons, ainda há alguém que me projeta e acompanha, fazendo-me esquecer de tudo o que não importa e focar apenas nas coisas boas, no que quero e posso fazer, no meu próprio potencial.  Alguém que está sempre presente, não importa o momento. Alguém que está sempre lá para estender-me a mão quando o mundo inteiro me vira as costas. E sim, eu agradeço todos os dias por ter essa pessoa por perto, mesmo sentindo que não mereço tanto.  Parece brincadeira, mas as...

 Luanda, 28 de Outubro de 2022. Mais um dia, cheio de altos e baixo, riso e choro... Apenas mais um dia. Mas pelo menos hoje eu pude ter um pouco mais de conforto. Acho que não há muito a dizer, hoje realmente foi um dia melhor que o dia anterior. Depois de tanta cobrança, finalmente posso relaxar um pouco e passar um tempo com as pessoas importantes, que sempre fazem os maus pensamentos dissiparem-se. Após uma semana tão problemática, aquele sossego tão aguardado chegou, vindo com a esperança de que tudo possa correr bem nos próximos dias. Ainda há muitos desafios pela frente. A guerra não está ganha, mas pelo menos foi ultrapassada mais uma batalha. "Girassol núbio, flor da minha alegria Espero que saibas como me alegra a tua companhia Quero que percebas o quanto sou tua e por mil outras flores não te trocaria E agora, em paz, De leve aura, vem e traz O canto que completa o meu dia."

Luanda, 27 de Outubro de 2022. Update atrasado desta vez. Ter tempo e encontrar as palavras certas foi um autêntico desafio. Mas, como sempre, eu desenrasco-me. Ah... Está tudo um autêntico inferno.  E aquela sensação de que a culpa é única e inteiramente minha cresce a cada segundo mais, prendendo o ar nos meus pulmões, sufocando-me totalmente.  Será mesmo possível alguém ser culpado de todo o mal que acontece por perto? Serei eu tão nociva, tão errada com todos à minha volta, e não percebo? Terei eu razões para ser atacada, desprezada e afastada cada vez que apareço? Será que todas as palavras que saem da minha boca serão condenadas? Em vinte e quatro horas, tanto acontece... A angústia presa no peito chega a ser surreal. E, entre fingir que está tudo bem e ter crises às costas do mundo, sobra uma eu que realmente não sabe o que fazer. Sem alegria, sem conforto, sem carinho, sem um desabafo profundo... Sozinha. Completamente sozinha. E acho que está mais que na hora de aceit...

 Luanda, 26 de Outubro de 2022. Bem... Hoje foi um dia muito peculiar. Entre fazer provas, stressar com trabalhos e ter aulas, as minhas emoções estavam em completo caos. Ora feliz, ora triste, ora com raiva, ora desanimada. Entender esta montanha-russa foi complicado demais. As coisas têm estado difíceis.  O ânimo está baixo, o stress no topo e a vontade de viver quase nula. E, mais uma vez, vejo-me perante aqueles intrusos pensamentos que me deixam tão sem rumo. Eu gostaria de poder conversar sem sentir que as coisas erradas são culpa minha e que as certas não passam de momentos vãos. Gostaria de poder abrir-me e expor o meu íntimo por completo, sem pensar nas consequências. Bem, talvez seja realista demais para isso. Talvez tenha demasiado medo das consequências.  Hoje, eu vi-te ali... Sendo feliz e alcançado tudo o que sempre quiseste. Vi-te sorrir e não pensar no mundo à tua volta. Hoje, eu vi-te da maneira que sempre quiseste ser... E eu, bem... Parece que tu não me...

 Luanda, 25 de Outubro de 2022. Hoje, a palavra do dia é "stress". Não é fácil fazer um monte de trabalhos de uma vez, ainda mais sendo todos urgentes. Trabalho de não sei o quê, análise de sei lá o quê, prova disto e daquilo... A minha mente não aguentaaaa! Ai, enfim. Isto é só a pontinha do iceberg, ainda há alguns bons meses pela frente. Mesmo com tanta coisa a ocupar-me o tempo, ainda espero conseguir alguns momentos para cuidar de mim, evitar a sobrecarga. Hoje espero conseguir escrever um pouquinho mais do próximo capítulo do livro em produção.  Está a ser um tanto divertido trabalhar com criações privadas. Confesso que tenho um fraquinho por romances adolescentes, e tento sempre deixá-los o mais real possível, para não me perder muito. A escrita é a minha escapatória do mundo real, a escolha certa quando procuro a melhor forma de me expressar. Sejam livros, poemas, textos simples ou canções que nunca sairão do papel, sinto-me livre quando o faço. Sinto-me real. Sinto-m...

 Luanda, 24 de Outubro de 2022. Hoje foi um dia normal. Foi cumprida a rotina de sempre. E, como todos os outros dias, pus-me a pensar como seria expor a minha vida para o mundo sem os métodos mais conhecidos. Uma peculiaridade minha é não gostar do que os outros gostam em demasia (se é que isto faz sentido). Chamo-me Uriah, tenho 16 anos e sou finalista do curso de Ciências Físicas e Biológicas. Apesar de introvertida, gosto de escrever, cantar e compor, e também sou half-deaf (meio-surda). Acho graça a esse trocadilho, sei lá porquê. Potterheads vão entendê-lo perfeitamente. Ultimamente, têm acontecido alguns fenómenos com o sentido que mais tento não perder — a audição.  E, entre acordar completamente surda e passar a vida a cantar, finalmente achei uma forma de me conectar ao mundo e sentir-me mais normal, sem o medo de me expor diretamente. Quero fazer desta página um diário em que possa colocar os eventos mais marcantes da minha vida, sejam eles bons ou maus, todos os di...