Prismas (Gatilhos: ansiedade, dismorfia corporal)
Luanda, 06 de Janeiro de 2024.
Olá, queridos leitores! Boa madrugada. Como prometido, cá estou eu para partilhar alguns pensamentos desta semana.
A primeira semana do ano foi notavelmente boa, cheia de mistérios e reflexões profundas. E pelos primeiros dias do ano, o único pensamento que se estagnou na minha mente foi o seguinte: pessoas quebradas têm uma mente muito diferente.
Tenho tido a oportunidade de conversar com todo o tipo de pessoas, com as mais variadas formas de pensar, e fico fascinada com a existência de pessoas que não têm uma vozinha irritante na cabeça que não espera nem um erro acontecer para adiantar logo que o que fazemos no momento está errado.
É incrível para mim pensar que realmente há pessoas que encontram paz nas suas mentes, quando esse nunca foi o meu caso. A vozinha que existe na minha cabeça é um dos meus maiores tormentos, não me dando um segundo de paz e me impedindo de fazer as coisas mais básicas desta vida.
E é ela que me faz ser completamente louca, a ponto de gargalhar e gargalhar até perder o ar, e no mesmo instante cair num choro amargo e profundo, até perder o ar.
É ela que arruína um momento agradável entre amigos, quando, sem aviso, sussurra "tu não és suficientemente boa para estar aqui", e continua, apertando a garganta com um arame farpado que sufoca cada vez mais a cada sussurro seu.
Sempre foi complicado ter uma mente assim, principalmente desde o ensino médio, onde tudo e qualquer coisa gerava um remoinho de pensamentos tóxicos que eram simplesmente demais para tentar entender.
Não entender o que estava a estudar, não tirar boas notas, me culpar por não tirar boas notas, não conseguir estudar porque me sentia culpada por não tirar boas notas. Era um ciclo sem fim. É um ciclo sem fim até hoje.
E isso sem falar da aparência, porque aí as coisas pioram por algo inevitável de se fazer: a comparação.
"Estou muito magra. A fulana ganhou uns quilinhos, está melhor."
"O cabelo está horrível hoje. Os cachos daquela menina são muito melhores."
"Preto não fica bem em mim, mas fica bem em todo mundo. Quê que se passa comigo?"
"Odeio esse corpo. Estou magra demais, os ossos aparecem demais, não gosto de mim assim."
Enfim, eu acabei encontrando refúgio nas roupas largas e casacos grandes, mesmo sabendo que muita gente gostaria de ser como sou, eu não gosto de mim desse jeito.
Para mim, tudo está errado comigo. E não adianta tentar mudar o meu ponto de vista, porque todos os lados deste prisma projetam a mesma ideia de uma eu altamente imperfeita em busca de um mínimo de normalidade.
Mas pessoas com transtornos não podem ser normais, não funcionamos deste jeito.
E não ajuda muito que este mundo esteja numa correria imparável sempre e nunca tenhamos tempo sequer de digerir as emoções antes de passar para um novo problema. E eu odeio esse processo todo.
Eu sei, odiar é uma palavra forte, mas é a verdade. Eu odeio não conseguir me entender, odeio não ter tempo ou os meios para me entender, mas... É a vida que eu vivo.
E mais, são todas estas confusões que fazem de mim uma ótima escritora, e também é por isso que este blog existe, afinal de contas, então acho que vou aprender a lidar com isto. Pelo bem da minha criatividade.
Não me levem a mal, eu adoro pessoas estranhas como eu e também adoro ser uma pessoa estranha às vezes. Mas lá no fundo, sempre fica a dúvida de como seria ser uma pessoa normal, apenas por um dia.
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